UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA À DISTÂNCIA – PEAD
INTERDISCIPLINA QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO:
SOCIOLOGIA E HISTÓRIA - B
- EIXO VI -
Professor FERNANDO SEFFNER
Tutor Renato Albuquerque
Aluna Mara Rosane Noble Tavares
megahipersuperbichado@gmail.com
Pólo de Gravataí
Data: 30/05/09
Enfoque V - Como trabalhar Questões Étnico-Raciais na Escola?
2ª Etapa – Reflexão Teórica sobre a Prática MOSAICO DA DIVERSIDADE
ANÁLISE
Não consegui parcerias de outras colegas e turmas para desenvolver o mosaico. A partir de outras atividades que desenvolvi com meus alunos na sexta-feira - como a atividade do “Espelho”, que o professor Fernando realizou conosco na aula presencial do dia 24/03/09 - desenvolvemos, eu e os alunos, vários questionamentos e comentários sobre as diferenças, as semelhanças, os pertencimentos e conseqüentemente, nossa ancestralidade.
Partindo desse primeiro momento desenvolvemos, juntos, um roteiro para a construção de um painel que nos mostrasse concretamente o que discutimos.
O roteiro nos orientou na busca de fotos e documentos, na confecção de vários desenhos para demonstrar nosso pertencimento e raízes étnico-raciais. Por sugestão de uma aluna, foi incorporada ao roteiro a árvore genealógica.
Passado o final de semana, a riqueza de materiais trazidos foi enorme. Em aula, realizamos os desenhos de alguns lugares e instituições significativos para a turma, trabalho sempre regado a muitas discussões e depoimentos. Após, montamos o Mosaico e escolhemos o nome de Mosaico da Diversidade.
Houve até mudanças nas descrições da atividade do “Espelho”, uma aluna que se descreveu como morena escura apagou e mudou para “negra”.
Minha turma se identificou como sendo um grupo onde a sua maioria (treze alunos) pertence ao grupo étnico-racial negro, com classes sociais variadas. Em comum, todos tem oito anos, freqüentam o SASI (Serviço de Assistência Social Infantil) no turno inverso, 12 alunos são colorados e apenas um é gremista. Ontem uma menina disse que não era mais colorada, mas que também ainda não era gremista, tentando dar apoio ao menino gremista. Há alunos vindos do interior e outros que sempre viveram na comunidade do entorno da Escola.
O conceito de etnia mudou várias vezes nesses dois dias, variando de “[...] é o povo que mora num determinado lugar, que tem costumes, hábitos, regras, cultura, roupas, comidas, etc, de um determinado jeito, que não interessa a cor da pele, como no Brasil. Mas, que tem alguns povos que as características do corpo também são iguais para todos que moram naquele lugar, como os chineses e os japoneses, que mesmo sendo parecidos, não são da mesma etnia”. Até, que por fim, chegaram a conclusão que existem sempre algumas características físicas, além das culturais que definem um determinado grupo étnico-racial.
Descobri junto com meus alunos todos esses nuances, mas o principal, é que não existe idade limite para trabalhar com esse assunto; que jamais ele deve ser considerado como tabu; e que a Escola, como espaço de pertencimento, deve favorecer a construção da identidade étnico-racial de seus sujeitos.
Para falarmos da formação cultural brasileira precisamos primeiro reconhecer a complexidade dessa formação, que não pode ser compreendida apenas a partir do conceito de raça. Somos Brancos, somos Negros, somos Índios, somos Brasileiros.
REFLEXÃO
Ao ouvir a fala do Professor Seffner na última aula, pude compreender que muitas vezes tentamos adotar uma tradição étnico-cultural que não a nossa em função de nos identificarmos mais com esses valores ou ainda de achá-los mais atraentes sem, contudo, pertencermos a ela.
Vejamos então, a que tradição étnica-cultural pertencemos enquanto brasileiros:
Com a chegada dos portugueses, os “brancos”, a população indígena que era de mais de oito milhões, constituia-se a maioria e, portanto, matéria-prima responsável pelas primeiras missegenações que resultaram nos primeiros "brancos da terra" - filhos de “brancos” com “índias”. Já pela época da chegada dos “negros”, havia tanto “negros” quanto “brancos” e “mestiços”, pois a população indígena foi sendo reduzida por conta das doenças que os “brancos” transmitiam, massacres, confrontos e guerras tribais. Os índios passaram a constituir a minoria, aumentando assim o número de “mestiços” no país, em sua maioria filhos de “brancos e negros”, “brancos e índios” e “índios e negros”. Com a onda das imigrações européias, o contingente de “brancos” aumentou novamente, mas mesmo assim, os “brancos da terra” ainda constituem a maioria em nosso país.
Na verdade, não temos tradição étnico-cultural nenhuma, a não ser que nos reportemos as nossas matrizes.
Essa é a real formação do povo brasileiro e é essa a razão de não sermos considerados como brancos no exterior, embora reinvindiquemos essa etnia.
Por conta dessa reivindicação, muitos preconceitos foram se enraizando no imaginário popular, fruto de uma revolta gerada pela missigenação e explicada pela admiração e tentativa de adoção do modelo dominante: “ocidental e branco”.
Mesmo ser descendente de portugueses, no caso do sul de açorianos, não é motivo de orgulho, pois foram eles os responsáveis “por sujar a cor”, expressão muitas vezes usada para justificar a miscegenação e expressar o preconceito. Portanto adotar essa etnia e essa herança cultural, também não garante acesso ao modelo dominante.
Hoje, os tempos são outros e identificar-se verdadeiramente com suas características físicas é sinônimo de autenticidade e pertencimento.
Estamos aos poucos nos voltando a nossas matrizes étnicas e assumindo suas tradições sem, contudo, deixarmos de ser brasileiros.
Esse movimento retrógrado, ou seja, de retorno às origens étnicas é motivado pela necessidade identitária com o coletivo, mas não é qualquer coletivo, pois o indivíduo sente cada vez mais sua identidade dissolvida num mundo cada vez mais sem fronteiras e globalizado. Sua identidade não é com o grande coletivo da humanidade e sim com um coletivo mais territorial e com tradições, organização, ritos e educação concretos e que reconhece, elementos que lhe permitam dizer sou desse ou daquele povo, coisa que antigamente equivalia a dizer sou desse ou daquele país, que por si só já identificava seus habitantes.
É dessa forma que vemos muitos povos se articulando em redes de reconhecimento e reivindicando da sociedade “ocidental branca” esse reconhecimento.
A Escola, como um instrumento da sociedade não pode ficar alijada desse movimento, mesmo porque, ele reflete dentro dela exigindo posicionamentos e ações válidas que o legitimem dentro do processo etnitário.
Reconhecer-se “índio”, “negro” ou “branco” depende da qualidade de experiências, conceitos, pré-conceitos e valores que vivenciamos tanto na família quanto na Escola. Dependem de como essas duas instituições básicas na vida do indivíduo a vivem ou a silenciam.
Trabalhar com o Mosaico da Diversidade trouxe a tona uma reflexão surgida de questionamentos baseados nesses valores descritos acima, um assunto que exige cuidado e delicadeza, não por se tratar de um assunto em pauta na sociedade, portanto, atual, mas sim, por mexer com a identidade do indivíduo, como ele se vê, como ele acha que os outros o vêem, como a família encara sua própria identidade, seu lugar no mundo, seus valores e os conceitos do que é socialmente aceito, qual o valor que confere a tradição e como espera que seus filhos se movam no mundo.
Foi uma surpresa muito grata ver que alguns alunos mudaram a visão que tinham sobre si mesmos alterando a escrita de suas auto-imagens. Alterando visões escamoteadas como de morena-jambo para negra, de morena para índia, identificando-se com uma etnia em particular não apenas por apreciar sua tradição e sim por reconhecer-se como descendente legítima dessa tradição e etnia identificando-se como indivíduo de valor.
Esse trabalho foi evidenciado na Escola, ele não seria possível se a família não contribuísse com dados, documentos e seus próprios valores, elementos muito importantes para que ao longo da atividade a construção identitária fosse começada como conteúdo escolar. Essa atividade envolveu todo um fim de semana junto às famílias que garimparam informações e documentos e, ao que me parece, fizeram toda uma preparação para que os dois dias de atividades resultassem em uma construção significativa da identidade étnica de cada aluno.
TEXTOS CONSULTADOS
Luciane Andréia Ribeiro Leite. “Era uma vez uma menina muito bonita: Uma prática pedagógica relacionada com a questão racial em uma turma de alfabetização.”
Marilene Leal Paré. Dimensões da Expressão Afro-cultural
Marilene Leal Paré. “Auto Imagem e Auto-Estima na Criança Negra:um Olhar sobre o seu Desempenho Escolar”
Ana Maria Petersen, Maria Aparecida Bergamaschi e Simone Valdete dos Santos. “Semana indígena: Ações e reflexões interculturais na formação de professores”.
Gersen dos Santos Luciano. “Os Indios no Brasil: quem são e quantos são”
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